08/01/2024

Pressão de trabalhadores que ajudou a derrubar juros segue em 2024

Ao longo de 2023, os movimentos sociais organizados, incluindo o movimento sindical bancário, realizaram uma série de protestos nas ruas e redes sociais para pressionar o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), a reduzir a taxa básica de juros brasileira (Selic). O ciclo de cortes começou em agosto do ano passado e fez com que o índice caísse de 13,75% para 11,75% ao final do ano passado.

“Ainda assim, o Brasil termina 2023 e inicia 2024 com o sexto maior juro nominal e a segunda maior taxa de juro real do mundo, atrás apenas do México, o que significa que tomar empréstimo para investir na economia real, gerar empregos é ainda muito caro no país”, explica a economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Vivian Machado. “Juro nominal é a taxa básica de juros da economia, que no Brasil é chamada de Selic, e a taxa de juro real é a Selic descontada a inflação”, complementa.

No boletim publicado logo após a última reunião de 2023, o Copom indicou que o ciclo de redução da Selic deverá prosseguir em 2024, com a previsão de que o índice finalmente alcance um dígito, ou seja, fique abaixo de 10%. E, no primeiro boletim Focus divulgado no ano, a entidade confirmou essa tendência, com a Selic em 9,25% ou 9% em dezembro de 2024.

“É um absurdo o Copom reduzir a Selic a conta-gotas. Não há cenário de risco de inflação que justifique a taxa no patamar atual. Já deveríamos estar com a Selic abaixo dos 10%”, destacou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, sobre a postura da autoridade monetária, que desde agosto tem reduzido a Selic em apenas 0,5 ponto porcentual (p.p.), nos encontros, que ocorrem a cada 45 dias.

“Mesmo com as reduções desde agosto, o Brasil continua apresentando uma das maiores taxas de juros reais do mundo, por conta desse processo lento de redução, que boicota a economia e a qualidade de vida de todos nós”, explica Juvandia Moreira.

“A redução indica o começo de um caminho, mas para que a economia e os brasileiros realmente possam respirar aliviados, pagar menos juros nas compras e para que as empresas possam também respirar e fazer mais investimentos que gerarão emprego e renda, seria necessária uma redução maior da Selic, para que os efeitos na economia fossem sentidos em menor tempo. A gente tem que ter em mente que a política monetária, praticada pelo BC, baliza as demais políticas econômicas. E ela, atualmente, não está em linha com o projeto do governo que o povo elegeu.  A Selic em dois dígitos serve apenas aos interesses dos rentistas do mercado financeiro, dos ricos que usam seus recursos para comprar títulos e viver de especulação.  Ela paralisa a economia e impede o país de crescer e gerar emprego decente, distribuir renda e facilitar o acesso ao crédito. Menos juros é mais investimento, mais emprego, mais saúde, mais educação. Menos juros é melhoria na vida dos brasileiros", reforça o presidente do Sindicato, Roberto Vicentim.

Um ano de luta

Em 2023, ao todo, foram oito atos nacionais, sempre realizados durante as reuniões do Copom, em frente aos 10 prédios do BC em capitais e em locais de grande circulação de outras grandes cidades do país, em que o movimento sindical denunciava como juros tão altos, puxados pela Selic a 13,75% ao ano, eram danosos à economia brasileira.

movimento nas ruas começou em 14 de fevereiro, durante a primeira reunião do ano do Copom. Os trabalhadores pediam “Fora Campos Neto!” e argumentavam que o BC estava sabotando o país, pois as altas taxas impediam a geração de emprego e renda. A hashtag #JurosBaixosJá também começou a ser usada em ações em redes sociais.

A Selic foi mantida, e o Brasil continuou com os mais altos juros reais do mundo. Então, na reunião seguinte do Copom, em 21 e 22 de março, novos protestos dos trabalhadores, ainda mais fortes e com transmissão ao vivo pela CUT. Após a Contraf-CUT e o Sindicato dos Bancários de Catanduva e região publicaram um repúdio formal à decisão do BC o anúncio de que a taxa não reduziria, .

O debate sobre a importância da redução dos juros crescia na sociedade. No final de abril, o setor produtivo passava a engrossar o coro pelos juros baixos, e, no começo de maio, o Datafolha publicava pesquisa de opinião que mostrava que 80% da população aprovava a pressão pela queda das taxas. O BC, porém, mantém a Selic inalterada.

Para protestar durante o encontro seguinte do Copom, em junho, Contraf-CUT, CUT, demais centrais e movimentos populares organizaram uma jornada contra os juros altos, da qual o Sindicato participou e que durou dias. No dia 20, os trabalhadores realizaram novo protesto de dimensão nacional. Com a Selic ainda em 13,75%, no fim de julho novos protestos são comandados pelos Comitês de Luta.

No início de agosto, após intensa pressão, o Copom enfim decide pela redução da Selic, que passa a 13,25% ao ano. Segundo o movimento, porém, a redução de 0,5 p.p. mantinha a política monetária de Campos Neto nociva à economia, então a mobilização pela queda dos juros continuaria, com a exigência de que a taxa ficasse abaixo de 10%.

Os atos acompanham também as três últimas reuniões do ano do Copom, em setembrooutubro e dezembro, período em que é mantida a sequência de cortes na taxa, sempre de 0,5 p.p., fazendo com que a Selic chegasse aos atuais 11,75%. O movimento, porém, reitera que a Selic nesse patamar continua alta para o desenvolvimento do Brasil e deve continuar caindo.

 
Fonte: Contraf-CUT, com edição de Seeb Catanduva

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