05/12/2025

Aumento de feminicídios acende alerta e impulsiona atos nos 21 Dias de Ativismo

Os alarmantes números de feminicídio em 2025 revelam uma tragédia contínua no Brasil, exigindo que o tema da violência contra a mulher seja tratado com a máxima urgência. O país já ultrapassou mil feminicídios registrados apenas neste ano, enquanto mais de 2,7 mil mulheres sobreviveram a tentativas de assassinato entre janeiro e setembro, uma estatística que, por si só, revela o tamanho da violência cotidiana enfrentada pelas mulheres brasileira.

Reação da sociedade: mobilização feminista e pronunciamento do presidente Lula

A sucessão de casos durante os 21 Dias de Ativismo provocou reações de movimentos feministas, instituições e lideranças políticas. Em meio ao aumento dos feminicídios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento firme em Pernambuco, direcionado especialmente aos homens.

Lula pediu uma mudança de postura masculina e defendeu a criação de “um grande movimento nacional contra aqueles que batem e maltratam as mulheres”. O presidente lembrou os conselhos de sua mãe, Dona Lindu, sobre resolver conflitos de forma digna e sem violência, reforçando que nenhum motivo justifica levantar a mão contra uma mulher.

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, afirmou que a violência contra mulheres no Brasil permanece em um patamar “inacreditável” e não pode ser naturalizada pela sociedade. Segundo ela, o machismo e a misoginia ainda fazem com que agressões sejam tratadas como comportamento comum nas relações, o que agrava a crise.

“Não podemos, jamais, naturalizar essa situação, como parte da sociedade acaba fazendo ao longo dos anos. É inacreditável essa cultura, quase que incorporando a violência como um ato normal de uma relação, pelo machismo, pela misoginia, por tudo aquilo que a gente tem historicamente na sociedade”, destacou a ministra em entrevista à TV Brasil.

Márcia destacou que os dados continuam “estarrecedores” e exigem resposta urgente do poder público. Para enfrentar o problema, a ministra afirmou que o governo intensificou a integração com estados e municípios e ampliou a rede de serviços de proteção. As ações incluem endurecimento das leis, reforço ao Ligue 180 e inserção de conteúdos de prevenção em escolas e universidades.

Ela ressaltou também o papel decisivo dos municípios, que atuam diretamente com escolas, unidades básicas de saúde e comunidades religiosas. Márcia defendeu que a violência de gênero é um fenômeno histórico e que a sociedade precisa compreender o que motiva homens a cometerem agressões, incluindo o feminicídio.

Nas ruas

Também em resposta à escalada brutal da violência de gênero no Brasil, o movimento Levante Mulheres Vivas convocou atos simultâneos em diversas cidades do país, com a maioria das mobilizações prevista para este domingo, 7 de dezembro. A ordem é ocupar as ruas, preferencialmente vestidas de roxo, portando faixas e cartazes, para pedir justiça e exigir a efetivação das políticas de proteção.

Atos estão confirmados em mais de 15 cidades, incluindo capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Belém.

A mobilização de 7 de dezembro é vista como uma oportunidade de fazer deste momento um ponto de virada. A meta é desmontar o projeto que produz a violência e erguer um país onde a vida das mulheres seja inegociável.

Cidades já confirmadas:

Centro-Oeste:
Brasília (DF): 10h, Feira da Torre de TV
Campo Grande (MS): 13h, em frente ao Aquário do Pantanal
Cuiabá (MT): 14h, Praça Santos Dumond

Nordeste:
São Luís (MA): 9h, Praça da Igreja do Carmos (Feirinha)
Salvador (BA): 10h, Barra (do Cristo ao Farol)
Fortaleza (CE): a confirmar
Parnaíba (PI): 16h, em frente ao Parnaíba Shopping
Teresina (PI): 17h, Praça Pedro II

Norte:
Belém (PA): 8h, Boulevard Gastronomia
Manaus (AM): 17h, Largo São Sebastião

Sudeste:
Belo Horizonte (MG): 11h, Praça Raul Soares
Rio de Janeiro (RJ): 12h, Posto 5 – Copacabana
São Paulo (SP): 14h, vão do Masp
São José dos Campos (SP): 15h, Largo São Benedito

Sul:
Porto Alegre (RS) - 17h, Praça da Matriz
Curitiba (PR) - 10h, Praça João Cândido – Largo da Ordem
Florianópolis (SC): a confirmar

Escalada da violência

A situação é especialmente crítica em São Paulo: a capital paulista atingiu o maior índice anual de feminicídios desde o início da série histórica em 2015, somando 53 casos entre janeiro e outubro de 2025, um recorde mesmo sem contar os últimos dois meses do ano. Em todo o estado de São Paulo, foram 207 feminicídios no mesmo período, representando um aumento de 8% em relação ao ano anterior.

Já o Rio de Janeiro registrou 107 feminicídios em 2024, e o cenário geral de violência no estado vitimou mais de 154 mil mulheres no ano, o equivalente a 18 vítimas por hora. A maioria das vítimas de feminicídio no Rio de Janeiro (71%) já havia sofrido alguma agressão anterior, mas apenas 13 possuíam medida protetiva.

“Estamos em um dos momentos mais críticos e violentos desde que o feminicídio foi tipificado como crime em 2015. Ter esses dados, essa realidade, em plena campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Meninas e Mulheres, em que a gente luta por paz, por vida, é muito doloroso”, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino.

Ela reforça que os números de 2025 expõem um cenário que demanda respostas imediatas e estruturais.

Casos recentes: os padrões de controle, ameaças e violência extrema

A imprensa e os movimentos feministas expõem, diariamente, episódios marcados por brutalidade e por uma lógica de posse sobre a vida da mulher, elemento central que caracteriza a maioria dos feminicídios. Os recentes casos relatados em diferentes estados do país reforçam esse padrão.

O caso de Tainara Souza Santos, 31 anos, ocorrido em 29 de novembro em São Paulo, sintetiza esse ciclo. Tainara foi atropelada e arrastada por aproximadamente um quilômetro na Marginal Tietê pelo ex-companheiro, Douglas Alves da Silva, de 26 anos, que não aceitava o fim do relacionamento. Em decorrência das lesões, Tainara teve as duas pernas amputadas e permanece internada em estado grave. O ataque, ocorrido em via pública e registrado em vídeos, provocou grande repercussão social.

No dia seguinte, outro episódio ampliou a sensação de urgência. Em 1º de dezembro, o agressor da ex-companheira Evelin de Souza Saraiva, 38 anos, invadiu a pastelaria onde ela trabalhava e disparou ao menos seis vezes usando duas pistolas. Segundo informações, a mulher já vinha sendo ameaçada desde a separação.

Em Recife, a violência assumiu proporções devastadoras. Isabele Gomes de Macedo, 40 anos, e seus quatro filhos, com idades entre 1 e 7 anos, morreram carbonizados após o companheiro incendiar a residência da família. O caso ilustra uma das dinâmicas mais recorrentes da violência doméstica: a escalada sucessiva de ameaças e agressões até o desfecho fatal.

Em Maceió, um episódio que poderia ter terminado em morte foi registrado em vídeo: um homem identificado como cantor foi flagrado injetando veneno de rato na garrafa d’água da ex-esposa, após invadir a residência dela mesmo sob medida protetiva. A vítima acompanhou em tempo real toda a movimentação do agressor pelas câmeras internas e acionou imediatamente a Patrulha Maria da Penha. O suspeito foi localizado e detido por descumprimento da medida protetiva.

A violência de gênero também atinge mulheres trans. Em Belo Horizonte, Alice Martins Alves, 33 anos, morreu após ser espancada por garçons de um bar, motivados por uma dívida de R$ 22 e por transfobia. O Ministério Público enquadrou o caso como feminicídio qualificado, por envolver menosprezo à condição de mulher.

No fim do mês de novembro, o Brasil assistiu estarrecido também a outro caso, dessa vez de duplo feminicídio no Rio. A diretora da equipe pedagógica Allane de Souza Pedrotti Matos, de 41 anos, e a psicóloga da instituição, Layse Costa Pinheiro, de 40 anos, foram assassinadas a tiros dentro do setor de pedagogia. O atirador era o servidor João Antônio Miranda Tello Ramos, que após o assassinato das vítimas cometeu suicídio. Ele não aceitava ser subordinado a mulheres no trabalho.

Casos como esses demonstram não apenas a letalidade dos ataques, mas também a persistência da violência mesmo após separações, medidas judiciais e tentativas de romper o ciclo abusivo.

Basta! Não Irão Nos Calar: Sindicato na luta contra a violência de gênero

O movimento sindical bancário sempre pautou essa discussão nas negociações com os bancos, e já conquistou a implantação de canais de atendimento às mulheres vítimas de violência, além do compromisso das instituições em instruir gestores para reconhecerem e encararem este drama social de forma séria. 

"Mas, este é um debate que nos interessa também como entidade cidadã e, por isso, nos juntamos à causa com o desenvolvimento de um canal próprio e específico de apoio, atendimento e denúncia. Estamos fazendo a nossa parte ampliando a nossa participação na luta para transformar nossa sociedade em um lugar melhor para todas as mulheres", destaca o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Vicentim.

O canal está disponível desde 2023, com horário de funcionamento de segunda a sexta-feira das 9h às 18h. Para serem atendidas, as bancárias podem entrar em contato com o Sindicato pelo número (11) 99591-7733, que funciona exclusivamente via WhatsApp.

Em poucos minutos, uma advogada do escritório Crivelli Advogados, parceiro da entidade no projeto, retornará o contato. Pelo canal, a bancária receberá acolhimento e assessoria especializada, desde informações sobre as possibilidades jurídicas (medida protetiva, denúncia criminal em relação à agressão e ações relacionadas ao direito de família), além de encaminhamento para os serviços públicos especializados.
 
Fonte: CUT, com edição de Seeb Catanduva

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