31/07/2025
Decisão do BC em manter juros em 15% expõe brasileiros a endividamentos e não combate inflação

Ao anunciar a manutenção da taxa básica de juros do Brasil (Selic) em 15% ao ano, no início da noite de quarta-feira (30), o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, não causou surpresa alguma. O índice já era previsto por todos os analistas e jornais de economia, em conformidade com as projeções das instituições financeiras, e não com as necessidades da população e do setor produtivo do país.
"O Banco Central diz que tem que manter a taxa de juros alta para controlar a inflação. Mas a Selic não é o único instrumento de controle de preços e nem funciona para os tipos de inflação que o Brasil enfrenta. O que a Selic elevada faz é manter o Brasil na liderança do ranking com os maiores juros do mundo, penalizando a população, que paga mais caro pelo que compra, pelo crédito que pega nos bancos, e fica com menos dinheiro para gastar e movimentar as empresas", explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), divulgada neste mês de julho, mostrou que o endividamento das famílias subiu para 78,2%. "O alto nível de endividamento da população brasileira está atrelado aos juros altos. Porque, em nenhum país do mundo, temos taxas tão abusivas e que comprometem a renda do trabalhador, como no Brasil, com coisas básicas, como financiamento de uma casa para morar ou de um carro, só para citar alguns exemplos”, observou o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Ele destacou que o movimento sindical bancário defende que um dos caminhos para controlar a inflação é aumentar a produção com juros menores. "Estimular o consumo das famílias e o setor produtivo, incentivando a produção, pode colaborar para o controle da inflação, se estiver atrelado à garantia de oferta de produtos com ganho de escala (redução do custo de produção à medida que a quantidade produzida aumenta), e isso é possível com oferta de crédito a juros justos, menores", completou.
Os dirigentes do movimento sindical completam que o Brasil já fez essa experiência, de aumentar o consumo das famílias e incentivo ao setor produtivo, com Selic adequada, garantia do crescimento econômico e sem que houvesse o descontrole da inflação. "Assim combatemos a narrativa do Banco Central de que os juros básicos elevados são bons instrumentos para combater a inflação. Muito pelo contrário!", pontuou.
E a inflação?
Perguntamos ao economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP, Ladislau Dowbor, se estaria de acordo com outra discussão nos noticiários, de que o BC teria dificuldades de reduzir a Selic dos atuais 15%, diante das incertezas do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros. E sua resposta foi que “não”.
"Não há dúvidas de que é, sim, possível reduzir a Selic. A inflação no Brasil não tem nada a ver com a taxa Selic, porque não é uma inflação de demanda (de uma economia super aquecida). A inflação de hoje é por elevação dos preços dos oligopólios, ‘profit inflation’ (inflação gerada por elevação de lucros)", explicou. "Ou seja, a taxa Selic nas alturas está gerando lucros para os mais ricos, que compram títulos da dívida pública e enriquecem 15% ao ano, sem precisar produzir. Vale destacar que grande parte do Congresso tem dinheiro aplicado, e por isso apoiam essa política do Banco Central. No Japão, por exemplo, a taxa básica de juros subiu de 0,25% para 0,5% - essa é a ordem de grandeza. Aqui, no Brasil, a Selic em 15% não é política monetária, é uma apropriação indébita de recursos públicos, dos nossos impostos. Reduzir a taxa Selic vai redirecionar o dinheiro para investimentos produtivos, que é o que precisamos", concluiu.
Ainda sobre o impacto da Selic na inflação, o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, lembrou que os níveis de inflação registrados desde 2023 (já no terceiro mandato Lula) são os menores dos últimos 20 anos.
“Considerando a taxa de inflação atual, que é uma das menores dos últimos anos, não há justifica para a manutenção da Selic altíssima", observou. "Mas, não podemos descartar a importância da inflação e seus impactos no dia a dia da vida do trabalhador. Tivemos um histórico recente de altas nos alimentos, principalmente no governo Bolsonaro. E, após esses aumentos, quando a inflação deixa de acontecer, os preços não costumam voltar atrás, e a população sente isso no bolso”, arrematou.
Cavarzan completou que o atual Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de cerca de 5%, não está fora do padrão brasileiro. "Talvez, a grande questão é que a meta de inflação do país, que é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), foi por muito tempo de 4,5%, com intervalo de tolerância de 2%. Logo, na prática, podia chegar até 6,5%, sem que fosse desconsiderado meta descumprida. A partir dos anos 2018 e 2019, essa meta foi caindo: 4,25%, 4%, 3,75%, 3,5%, 3,25%, 3%... Então, agora, temos uma meta de 3%, com intervalo de 1,5%, que é praticamente impossível de cumprir em um país periférico com as características do Brasil, sujeito às interferências da taxa de câmbio, por exemplo", concluiu.
"O Banco Central diz que tem que manter a taxa de juros alta para controlar a inflação. Mas a Selic não é o único instrumento de controle de preços e nem funciona para os tipos de inflação que o Brasil enfrenta. O que a Selic elevada faz é manter o Brasil na liderança do ranking com os maiores juros do mundo, penalizando a população, que paga mais caro pelo que compra, pelo crédito que pega nos bancos, e fica com menos dinheiro para gastar e movimentar as empresas", explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), divulgada neste mês de julho, mostrou que o endividamento das famílias subiu para 78,2%. "O alto nível de endividamento da população brasileira está atrelado aos juros altos. Porque, em nenhum país do mundo, temos taxas tão abusivas e que comprometem a renda do trabalhador, como no Brasil, com coisas básicas, como financiamento de uma casa para morar ou de um carro, só para citar alguns exemplos”, observou o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Ele destacou que o movimento sindical bancário defende que um dos caminhos para controlar a inflação é aumentar a produção com juros menores. "Estimular o consumo das famílias e o setor produtivo, incentivando a produção, pode colaborar para o controle da inflação, se estiver atrelado à garantia de oferta de produtos com ganho de escala (redução do custo de produção à medida que a quantidade produzida aumenta), e isso é possível com oferta de crédito a juros justos, menores", completou.
Os dirigentes do movimento sindical completam que o Brasil já fez essa experiência, de aumentar o consumo das famílias e incentivo ao setor produtivo, com Selic adequada, garantia do crescimento econômico e sem que houvesse o descontrole da inflação. "Assim combatemos a narrativa do Banco Central de que os juros básicos elevados são bons instrumentos para combater a inflação. Muito pelo contrário!", pontuou.
E a inflação?
Perguntamos ao economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP, Ladislau Dowbor, se estaria de acordo com outra discussão nos noticiários, de que o BC teria dificuldades de reduzir a Selic dos atuais 15%, diante das incertezas do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros. E sua resposta foi que “não”.
"Não há dúvidas de que é, sim, possível reduzir a Selic. A inflação no Brasil não tem nada a ver com a taxa Selic, porque não é uma inflação de demanda (de uma economia super aquecida). A inflação de hoje é por elevação dos preços dos oligopólios, ‘profit inflation’ (inflação gerada por elevação de lucros)", explicou. "Ou seja, a taxa Selic nas alturas está gerando lucros para os mais ricos, que compram títulos da dívida pública e enriquecem 15% ao ano, sem precisar produzir. Vale destacar que grande parte do Congresso tem dinheiro aplicado, e por isso apoiam essa política do Banco Central. No Japão, por exemplo, a taxa básica de juros subiu de 0,25% para 0,5% - essa é a ordem de grandeza. Aqui, no Brasil, a Selic em 15% não é política monetária, é uma apropriação indébita de recursos públicos, dos nossos impostos. Reduzir a taxa Selic vai redirecionar o dinheiro para investimentos produtivos, que é o que precisamos", concluiu.
Ainda sobre o impacto da Selic na inflação, o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, lembrou que os níveis de inflação registrados desde 2023 (já no terceiro mandato Lula) são os menores dos últimos 20 anos.
“Considerando a taxa de inflação atual, que é uma das menores dos últimos anos, não há justifica para a manutenção da Selic altíssima", observou. "Mas, não podemos descartar a importância da inflação e seus impactos no dia a dia da vida do trabalhador. Tivemos um histórico recente de altas nos alimentos, principalmente no governo Bolsonaro. E, após esses aumentos, quando a inflação deixa de acontecer, os preços não costumam voltar atrás, e a população sente isso no bolso”, arrematou.
Cavarzan completou que o atual Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de cerca de 5%, não está fora do padrão brasileiro. "Talvez, a grande questão é que a meta de inflação do país, que é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), foi por muito tempo de 4,5%, com intervalo de tolerância de 2%. Logo, na prática, podia chegar até 6,5%, sem que fosse desconsiderado meta descumprida. A partir dos anos 2018 e 2019, essa meta foi caindo: 4,25%, 4%, 3,75%, 3,5%, 3,25%, 3%... Então, agora, temos uma meta de 3%, com intervalo de 1,5%, que é praticamente impossível de cumprir em um país periférico com as características do Brasil, sujeito às interferências da taxa de câmbio, por exemplo", concluiu.
SINDICALIZE-SE
MAIS NOTÍCIAS
- Decisão do BC em manter juros em 15% expõe brasileiros a endividamentos e não combate inflação
- Coletivos estaduais de bancos públicos e privados se reúnem nos dias 7 e 8 de agosto
- Lucro do Santander cresce às custas dos trabalhadores e do fechamento de agências
- Bradesco lucra R$ 11,9 bilhões no 1º semestre de 2025 e segue fechando agências e postos de trabalho
- Negociações avançam e Mercantil reduz meta da PLR 2025 em resposta à COE
- Reivindicação histórica: trabalhadores de bancos incorporados poderão migrar para a Cassi e Previ
- Saiba quanto você vai economizar todo mês com as novas faixas de isenção do IR
- Novo aulão do tira-dúvidas da Rede do Conhecimento explica como a “Super Quarta” pode impactar seu bolso
- Bancárias e bancários realizarão 27ª Conferência Nacional em agosto
- EDITAL ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA - Cooperativas de Crédito
- Bancários de Catanduva e região têm representante finalista no 2º Festival Nacional de Música Autoral da Contraf-CUT
- Oficina de Formação da Rede UNI Mulheres reforça o cuidado como pilar da ação sindical e da igualdade de gênero
- Movimento sindical envia ofício questionando se recente mudança estatutária apurada pelo Valor debateu teto de custeio do Saúde Caixa
- Sindicatos cobram e Fenaban se compromete com negociação permanente sobre impactos da IA no setor
- Retirada de Patrocínio no Banesprev: respostas para perguntas frequentes