Efeitos do golpe: banqueiros querem deixar categoria sem direitos e sem reajuste decente

(Foto: Seeb Catanduva)
A proposta com reajuste de 3,90% (reposição da inflação), anunciada na negociação do dia 7, foi rejeitada em todo o país em assembleias realizadas na semana passada.
“Enquanto oferecem zero de aumento real para os trabalhadores, cobram taxas de juros absurdas dos clientes, com cheque especial a 305% ao ano e 292% ao ano no rotativo do cartão de crédito. Lucraram R$ 80 bilhões em 2017 em plena crise econômica e fecham milhares de postos de trabalho e agências bancarias”, disse Ivone Silva, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Na rodada de terça-feira (21), o setor mais lucrativo do país apresentou novamente proposta insuficiente aos seus empregados e com retirada de direitos. Os cinco maiores bancos (BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander), que somente no primeiro semestre deste ano já ganharam R$ 42 bilhões ou quase 18% mais que em 2017, apresentaram aos bancários um acordo com aumento real de somente 0,5%, e alteração ou exclusão de diversas cláusulas de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) como o pagamento proporcional, e não mais integral, da PLR das bancárias em licença-maternidade e de afastados por doença ou acidente.
A proposta foi rejeitada pelo Comando na mesa de negociação , a oitava da Campanha Nacional 2018. “Os dirigentes que compõem o Comando Nacional dos Bancários rejeitaram a proposta porque tem retirada de direitos e, em assembleias realizadas em todo o Brasil, a categoria já afirmou que não aceita nenhum direito a menos”, afirmou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Houve alteração no índice, com aumento real, mas ainda é insuficiente, aquém do que eles podem pagar. Setores menos lucrativos pagaram aumento real maior e os bancos podem pagar ainda mais.”
O presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região, Roberto Carlos Vicentim, destaca que a categoria está conscientizada de que a Campanha Nacional 2018 está sendo ainda mais difícil que as anteriores, face à atual conjuntura do país. Mas que isso não deve amedrontar os trabalhadores. Ao contrário, deve servir de força e motivação para reivindicar avanços e, sobretudo, respeito.
“Nesta Campanha, os bancários precisam estar alertas aos ataques às conquistas conseguidas ao longo das últimas décadas. Estamos lutando não só pelas reivindicações decididas durante os encontros e conferência, mas sobretudo pela manutenção dos direitos de todos os trabalhadores e contra a precarização do trabalho que está sendo imposta pelo governo Temer", ressaltou.
A Fenaban pediu um prazo para se reunir com os bancos e, assim, a negociação continua na quinta-feira (23).
A Caixa Federal tem negociação marcada para a quarta-feira (22), às 10h. O Banco do Brasil também será nesta quarta, às 15h.
Desemprego
De acordo com dados dos balanços das instituições financeiras, os cinco maiores bancos que atuam no país (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander) eliminaram 16,9 mil postos de trabalho somente em 2017.
Houve uma redução no emprego bancário de 57.045 postos de trabalho entre janeiro de 2012 e junho de 2018, o que representa uma redução de 11,5% na categoria neste período.
Apesar do aumento substancial do lucro no último período, o emprego nos maiores bancos vem caindo: no 1º trimestre de 2018, houve uma queda de 13.564 postos de trabalho em doze meses.
Igualdade de oportunidades
Na categoria bancária, as mulheres ocupam 49% do total de postos de trabalho e recebem, em média, salários 23% menores que os dos homens.
Essa realidade é ainda mais injusta quando se observa que as mulheres bancárias têm escolaridade maior que a dos bancários. 80% das bancárias têm nível superior completo, enquanto entre os homens esse percentual cai para 74%.
Em seus Relatórios Anuais de Sustentabilidade os bancos apresentam algumas informações que ilustram a desigualdade com a qual as mulheres são tratadas nestas instituições.
No Bradesco, por exemplo, o salário médio das mulheres na gerência representa apenas 85% do salário médio dos homens que trabalham nos mesmos cargos.
Lucro dos bancos
O lucro líquido dos cinco maiores bancos atuantes no Brasil (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander), nos três primeiros meses do ano, atingiu a marca de R$ 20,3 bilhões, com crescimento de 18,7%.
Dados da Categoria
Os bancários são uma das poucas categorias no país que possui Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com validade nacional.
Os direitos conquistados têm legitimidade em todo o país. São cerca de 485 mil bancários no Brasil. A categoria conseguiu aumento real acumulado entre 2004 e 2017 de 20,26% e 41,6% no piso.
Principais reivindicações Campanha Nacional Unificada 2018:
• Reajuste Salarial – 5% de aumento real, com inflação projetada de 3,87 % (até 07/08)
• PLR – três salários mais R$ 8.546,64
• Piso – Salário mínimo do Dieese (R$ 3.747,10)
• Vales Alimentação, Refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá – Salário Mínimo Nacional (R$ 954): Inclusive nos períodos de licença-maternidade, paternidade e adoção, férias e nos afastamentos por doença de qualquer natureza ou acidente de trabalho.
• 14º salário;
• Fim das metas abusivas e assédio moral – A categoria é submetida a uma pressão abusiva por cumprimento de metas, que tem provocado alto índice de adoecimento dos bancários;
• Emprego – Fim das demissões; ampliação das contratações; fim das novas formas de contratação, criadas a partir da Reforma Trabalhista (autônomo, terceirizado e intermitente e contrato parcial); fim da precarização das condições de trabalho e homologações feitas no Sindicato
• Melhores condições de trabalho nas agências digitais
• Mais segurança nas agências bancárias
• Auxílio-educação
Proposta Federação Nacional dos Bancos (Fenaban): dia 07/08
A proposta dos bancos foi 3,90% reajuste, o que corresponde ao valor do INPC e zero de aumento real para a categoria (de acordo com a inflação projetada de 3,87%), em um acordo de quatro anos.
Como é hoje:
- Piso escritório após 90 dias – R$2.192,88
- Piso caixa/tesouraria após 90 dias – R$ 2.962,29
- PLR – Regra básica: 90% do salário + 2.243,58 (podendo chegar a 2,2 salários) e parcela adicional: 2,2% do lucro líquido dividido linearmente entre os trabalhadores, com teto de R$ 4.487,16
- Auxílio-refeição: R$33,50 por dia ou R$ 737,00 (mensal)
- Auxílio cesta alimentação e 13ª cesta – R$ 580,83
- Auxílio-creche/babá (filhos até 71 meses) – R$ 446,11
Proposta Federação Nacional dos Bancos (Fenaban): dia 21/08
Retirada do salário substituto (cláusula 5ª)
• Fim da PLR integral para bancárias em licença-maternidade e afastados por acidente ou doença (esses trabalhadores receberiam PLR proporcional ao período trabalhado)
• Querem compensar, caso percam na Justiça, as horas extras pagas como gratificação de função conforme a cláusula 11ª da CCT. Esse item não vale para os bancos públicos, que têm Plano de Cargos e Salários (PCS). A proposta foi rejeitada e o Comando quer negociar PCS para todos
• Alteração da cláusula do vale-transporte, rejeitada porque ficaria pior do que a lei (cláusula 21ª)
• Fim da cláusula que proíbe a divulgação de ranking individual (cláusula 37ª)
• Retirada da cláusula que previa adicional de insalubridade e periculosidade porque está na lei (cláusula 10ª)
• Querem flexibilizar o horário de almoço de 15 minutos para 30 minutos na jornada de seis horas (exceto para teleatendimento e telemarketing)
• Fim do vale-cultura (cláusula 69). Comando quer que permaneça para que o direito esteja garantido caso do governo retome o programa.
• Retirada da cláusula que garantia a homologação de rescisão contratual nos sindicatos
• Aqui um avanço: garante o parcelamento do adiantamento de férias em três vezes, a pedido do empregado
• Outro avanço: mantém o direito do hipersuficiente à CCT (quem ganha mais de R$ 11.
• Mantém o direito ao adiantamento emergencial para quem tem recurso ao INSS por 90 dias. Os bancários querem 120 dias
Saiba como foram as negociações com a Fenaban
> 1ª rodada: Bancos frustram na primeira rodada de negociação
> 2ª rodada: Calendário de negociações foi definido
> 3ª rodada: Categoria adoece, mas Fenaban não apresenta proposta
> 4ª rodada: Em mesa de emprego, bancos não se comprometem contra contratações precárias
> 5ª rodada: Bancos não apresentam proposta
> 6ª rodada: Bancos lucram bilhões e não querem dar aumento real
> 7ª rodada: Negociação com Fenaban continua na terça-feira (21) e só termina com proposta decente ou em impasse
Saiba como foram as negociações com o Banco do Brasil
> 1ª rodada: BB mostra disposição para negociar com funcionários
> 2ª rodada: Mesa com BB define abrangência do acordo
> 3ª rodada: Terceira negociação com BB traz poucos avanços
> 4ª rodada: Banco do Brasil propõe reduzir prazo de descomissionamento e não avança na pauta
> 5ª rodada: Mesa de negociação com BB fica zerada na pauta econômica
> 6ª rodada: BB apresenta proposta insuficiente e incompleta
> 7ª rodada: Mesa do BB continuará junto com a negociação da mesa única na terça (21)
Saiba como foram as negociações com a Caixa:
> 1ª rodada: Empregados e Caixa definem calendário de negociação
> 2ª rodada: Direção da Caixa não garante direitos dos empregados
> 3ª rodada: Governo quer impor o fim do Saúde Caixa
> 4ª rodada: Caixa não avança nas negociações
> 5ª rodada: Caixa apresenta proposta inaceitável
> 6ª rodada: Em mesa específica da Caixa, mobilização traz avanços ainda insuficientes
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