27/06/2025

Atualização da NR-1 reacende debate sobre saúde mental e gestão abusiva nos bancos

Seminário promovido pela FETEC-CUT/SP reuniu especialistas, dirigentes e sindicalistas para discutir os limites da nova norma diante de um cenário alarmante de adoecimento entre bancários.

A saúde mental dos bancários foi o centro do debate na manhã do dia 25 de junho, no seminário “NR-1 e a saúde mental dos trabalhadores”, promovido pela FETEC-CUT/SP, em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP).

O evento aconteceu no recém-inaugurado auditório Sebastião Cardozo, na sede da FETEC, e reuniu representantes de federações de bancários de todo o país, destacando o caráter nacional da discussão sobre os impactos da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1).

O Sindicato dos Bancários de Catanduva e região esteve representado pelo secretário de Saúde, Condições de Trabalho e Assuntos Jurídicos da entidade, Luiz Eduardo M. Freire (Sadam).
 
Ana Lúcia Ramos Pinto, secretária-geral da federação paulista, abriu o evento com uma saudação em nome de toda a base da entidade:

“É uma honra abrir este seminário que trata de um tema tão urgente para a nossa categoria. O adoecimento mental dos trabalhadores do ramo financeiro não é um acaso — é resultado direto da pressão insustentável por metas e da lógica de gestão abusiva imposta pelos bancos. Precisamos enfrentar essa realidade com coragem, organização e unidade sindical. Falar sobre saúde mental é, acima de tudo, defender a dignidade no ambiente de trabalho.”

Rosângela Lorenzetti, secretária de Saúde e Condições de Trabalho da FETEC-CUT/SP e organizadora do seminário, destacaou a importância do debate.
“O objetivo do seminário é levar aos trabalhadores uma reflexão sobre a NR-1. O ambiente de trabalho deve promover respeito e não medo. Quando a cobrança vira humilhação, é hora de repensar”, afirmou.

Hoje, o adoecimento mental já é a terceira principal causa de afastamento pelo INSS. Em sua apresentação, Rosângela apresentou dados que comprovam o quanto o trabalho tem sido insalubre em todo o mundo.

“Em 2022, a Organização Mundial da Saúde reconheceu a síndrome de burnout como uma doença ocupacional. Já em 2023, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças relacionadas ao trabalho, incluindo os transtornos mentais. Ou seja, essas instituições reconhecem que o ambiente de trabalho é insalubre e adoecedor, e, ainda assim, os bancos continuam negando todas as estatísticas”, afirmou.

Ela ressaltou que, sem mudanças reais no ambiente laboral, qualquer programa de bem-estar implantado pelos bancos será inócuo.

“Norma não muda realidade da categoria”

Valeska Pincovai, diretora de Saúde do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, destacou a urgência do debate e a importância do alinhamento sindical diante das mudanças na NR-1:

“A atualização da NR-1 é um avanço ao reconhecer os riscos psicossociais e prever fiscalização mais rigorosa sobre as empresas. No entanto, o fato de os trabalhadores seguirem excluídos do processo de identificação desses riscos é extremamente grave. Justamente os bancos, que negam sistematicamente o adoecimento causado por seus modelos de gestão, continuam sendo os únicos responsáveis por declarar se há ou não risco no ambiente de trabalho. Isso é inaceitável.”

Para Valeska, a norma, por si só, não muda a realidade da categoria:

“É urgente transformar a forma como os bancos operam, com metas abusivas e práticas de assédio institucionalizadas. Para isso, seguiremos firmes na denúncia e na fiscalização dessas condutas.”

Especialistas criticam culpabilização do trabalhador

O seminário contou com a participação de especialistas que contribuíram para qualificar o debate. O advogado Jorge Luiz Ussier, especialista em saúde do trabalhador, e a advogada Maria Leonor Poço Jakobsen, especialista em direitos humanos, apresentaram um panorama jurídico e normativo sobre a nova regulamentação.

Eles defenderam que o foco da análise deve ser o ambiente de trabalho, e não o indivíduo. A individualização do problema transfere a responsabilidade para o trabalhador, quando, na verdade, trata-se de uma questão coletiva e organizacional. Por isso, a responsabilidade é do empregador, que responde pela forma como o trabalho é estruturado e conduzido.

Na sequência, as psicólogas Andréia Garbin e Renata Paparelli, também especialistas em saúde do trabalhador, aprofundaram a discussão ao tratar dos impactos psicossociais e dos desafios para a implementação efetiva da NR-1 nas empresas.

Elas alertaram para o discurso recorrente de culpabilização adotado pelas empresas.

Segundo relataram, é comum que o trabalhador adoecido — especialmente no setor bancário — seja responsabilizado por não alcançar metas ou por não “aguentar a pressão”. A lógica é perversa: “só você não consegue, todo mundo consegue, menos você.”

Esse tipo de narrativa ignora completamente dados como os da OMS, que mostram que os transtornos mentais relacionados ao trabalho já estão entre as principais causas de afastamento no mundo.

“Ao individualizar o problema, o sistema invisibiliza a responsabilidade da organização do trabalho e reforça a solidão do trabalhador em sofrimento”, alertaram.

Epidemia de transtornos mentais entre bancários

Embora os bancários representem apenas 0,8% dos empregos formais no Brasil, são responsáveis por 4,12% dos afastamentos por benefício do INSS.
Transtornos mentais como burnout, síndrome do pânico, depressão e ansiedade lideram os motivos de afastamento na categoria.

Entre os casos de Auxílio-Doença Previdenciário (B31), 51,8% são por transtornos mentais. No caso do Auxílio-Doença Acidentário (B91), o índice chega a 55,95%.

“Os números deixam clara a urgência de os bancos reconhecerem que o ambiente de trabalho está adoecendo os funcionários e de promoverem mudanças na gestão e organização do trabalho, onde a pressão por metas e o assédio geram sofrimento e afastamentos. Por isso, é fundamental que esse debate se amplie em todas as federações e sindicatos do país”, concluiu Rosângela Lorenzetti.

O que muda com a atualização da NR-1

A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) foi atualizada e entrou em vigor em caráter educativo em 25 de maio de 2024. A fase de fiscalização e aplicação de sanções está prevista para iniciar em maio de 2026.

As principais mudanças incluem:
 
  • Inclusão dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR); 
  • Obrigatoriedade de medidas preventivas para mitigar esses riscos; 
  • Integração das ações de saúde e segurança entre empresas que compartilham o mesmo ambiente de trabalho. 

A norma reconhece que fatores como metas abusivas, pressão excessiva, jornadas longas e assédio moral representam riscos reais à saúde mental dos trabalhadores — especialmente no setor financeiro.

Além disso, reforça a necessidade do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e do PGR para identificar, avaliar e controlar todos os riscos no ambiente laboral, promovendo ações preventivas e melhorias contínuas para proteger a saúde física e mental dos trabalhadores.


 
Fonte: Fetec-CUT/SP, com edição de Seeb Catanduva

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