21/11/2023

Mês da Consciência Negra: Democracia plena requer abolição do racismo

Mesmo com a melhora dos indicadores econômicos, que vem sendo registrada no Brasil desde o início de 2023, “o mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial. Tanto a inserção quanto as possibilidades de ascensão são desiguais para a população preta e parda. E as mulheres negras acumulam as desigualdades não só de raça, mas também de gênero”.

Esse é o mote principal do boletim “As dificuldades da população negra no mercado de trabalho”, especial para o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro de 2023, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A publicação destaca que apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência são ocupados por negros, que representam 56,1% da população em idade de trabalhar do país. Entre os desocupados, porém, 65,1% são negros.

O estudo analisa dados do segundo trimestre de 2023, levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PnadC-IBGE).
 

As mulheres negras são ainda mais afetadas pela discriminação: sua desocupação é de 11,7% (enquanto a taxa entre os não negros é de 6,3%), e uma em cada seis trabalha como empregada doméstica. Entre os ocupados negros e negras, 46% ocupam trabalhos desprotegidos, enquanto essa proporção entre os não negros é de 34%. O profissional negro recebe, em média, 39,2% menos que o não negro.

A discriminação é observada em todos os aspectos do mundo do trabalho. A desocupação na população negra é de 9,5%, 3,2 pontos percentuais (p.p.) acima da taxa verificada entre os não negros. Entre as mulheres negras consultadas pela PnadC-IBGE, 26,6% estavam desocupadas, não tinham procurado trabalho por falta de perspectiva ou, mesmo ocupadas, tinham carga de trabalho menor à que gostariam.
 

Os negros ocupados não escapam das diferenças discriminatórias impostas pelo mercado de trabalho, pois, como afirma o estudo, “as condições de inserção dos negros são mais desfavoráveis”. Um exemplo ressaltado é que “apenas um em cada 48 trabalhadores negros está em cargo de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para cada 18 trabalhadores”. Ao mesmo tempo, o estudo enfatiza que, para os trabalhadores negros, “em todas as posições, o rendimento médio deles é inferior”.

O boletim do Dieese conclui que “mesmo com a indicação do crescimento da atividade econômica, o mercado de trabalho continua reproduzindo as desigualdades sociais. Os trabalhadores negros enfrentaram mais dificuldades para conseguir trabalho, para progredir na carreira e entrar nos postos de trabalho formais com melhores salários. E as mulheres negras encaram adversidades ainda maiores do que os homens, por vivenciarem a discriminação por raça e gênero”.

Categoria bancária

Apenas 25% dos postos de trabalho da categoria bancária são preenchidos por negras e negros, e as mulheres negras representam apenas 11,4% desse universo. A remuneração também reflete a forte diferença por questão racial existente no setor, também acentuada pela questão de gênero: enquanto um bancário branco recebe em média R$ 11.831, uma bancária preta tem rendimento médio de R$ 7.023 – ou seja, 40,6% inferior. Apenas 20,3% dos cargos de liderança são ocupados por funcionários negros e negras. As mulheres negras são ainda mais oprimidas nesse aspecto, ocupando apenas 8,8% desses postos.

Para o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, “os números da violência deste ano mostram que a população negra é a que mais sofre em relação a homicídios, à abordagem policial. Os dados do IBGE mostram que os negros também são discriminados no mercado de trabalho, que os exclui dos cargos mais qualificados e lhes proporciona um salário muito inferior ao do trabalhador não negro”.

O dirigente afirma que “o importante é tomarmos conhecimento desses números e trabalharmos sobre eles, de modo que consigamos mudar o pensamento dessa sociedade racista, que exclui a população negra. Somos 56% da população do país, mas somos sempre tratados como minorizados, em especial pelo Congresso Nacional”.

"Durante este mês, destinado as reflexões acerca do preconceito e violência sofridos pela população negra, o Sindicato também chama atenção para atitudes racistas que presenciamos no dia-a-dia. Quantas pessoas no seu ambiente de trabalho são negras? Quantas dessas pessoas negras ocupam espaços de poder e de decisão? Quantas dessas pessoas são bem remuneradas e reconhecidas? Quantas são mulheres negras? O racismo é uma das formas de exploração mais cruéis e mais naturalizadas contra os trabalhadores. Derruba a autoestima, mina as possibilidades de crescimento profissional e coloca muitos indivíduos cada vez mais à margem da sociedade! Essa discussão e a busca por igualdade devem ser permanentes", destaca o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Carlos Vicentim.
 

"Mas não podemos esquecer que os bancários têm sido protagonistas nas lutas pela igualdade de oportunidades e pelo fim de todas as formas de preconceito. Por isso, nos unimos aos demais movimentos sociais e categorias de trabalhadores para fortalecer essa luta, por um país mais justo e igualitário. Combater o racismo  e fortalecer a luta pelos direitos de todos os cidadãos deve ser um compromisso de toda a sociedade para a construção de um país mais justo", acrescenta Vicentim.
 
Assista ao vídeo da Contraf-CUT sobre a Consciência Negra:
 
Fonte: Contraf-CUT, com edição de Seeb Catanduva

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