20/06/2023

Governo eleva para R$ 600 mínimo que bancos não podem tomar de superendividados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na segunda-feira (19), a ampliação do valor do mínimo existencial de R$ 303 para R$ 600. Com a medida os bancos ficam impedidos de tomar este valor das pessoas superendividadas para que elas tenham o mínimo para a sua subsistência, mesmo que tenham contraído empréstimos pessoais e consignados. A medida deve beneficiar 14 milhões de pessoas, de acordo com o governo federal.

Segundo Lula, “a iniciativa faz parte de uma série de esforços do nosso governo para garantir crédito e condições de consumo para o povo brasileiro, contribuindo para o aquecimento da economia”.

Hoje o percentual de famílias com dívidas a vencer é de 78,3% , sendo que a cada cinco, uma não conseguirá pagar uma dívida já atrasada, segundo levantamento da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de maio deste ano. 

“Os juros elevados dificultam o pagamento da dívida atrasada, pois acirram as despesas financeiras. Com isso, o volume de consumidores com atrasos por mais de 90 dias segue em tendência de alta. Do total de inadimplentes, 45,7% estão com atrasos por mais de três meses, maior percentual em três anos”, destaca o relatório da Peic.

A economista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), Denise Gentil concorda que os juros altos são um dos principais motivos para o superendividamento, porém, para garantir melhores condições de crédito e de consumo é preciso incorporar um conjunto de políticas que vão desde a redução da taxa da Selic, até as melhorias estruturais do mercado de trabalho assim como a recuperação dos serviços públicos sucateados nos governos de Michel Temer (MDB-SP) e de Jair Bolsonaro (PL-RJ).

"Foram as condições de pobreza da classe trabalhadora que forjaram esse brutal endividamento de famílias carentes”, afirma.

“Com o desmonte do SUS, do Farmácia Popular e da educação, entre outros serviços públicos, que na prática servem como complemento de renda para a população mais pobre, as famílias foram buscar no crédito o dinheiro necessário para suprimir essas necessidades”, diz a economista.

“Os serviços públicos foram sucateados e a renda das famílias foi dilapidada pelos bancos que continuam disputando com o governo o comando do país, apesar dos esforços do governo Lula em promover políticas de transferência de renda aos mais pobres e pressionar pela redução da taxa de juros para certos segmentos”, explica Denise Gentil.

A perversidade dos juros altos

Hoje o crédito consignado impede que uma pessoa se endivide para além de 40% de sua renda, mas as famílias assim que assumem esse teto, partem para outras formas de crédito e vão para o uso do cheque especial, do rotativo do cartão de crédito e os bancos ficam livres para avançar sobre a renda das pessoas, por isso que se estabelecer um mínimo de subsistência, embora baixo, é extremamente importante, avalia Denise.

“Se o governo quer fazer política de proteção aos mais pobres e, simultaneamente, fazer política de crédito, o que é muito questionável porque eleva a taxa de exploração da classe trabalhadora, deverá, pelo menos, buscar controlar a taxa de juros dos empréstimos em patamares muito baixos para essa parcela da população, que envolve os aposentados e demais beneficiários de transferências de renda. Essa queda de braço com o sistema financeiro tem de ser feita em favor dos mais pobres e endividados”, diz Denise.

A economista lista algumas iniciativas que poderiam ser adotadas pelo governo federal para diminuir o superendividamento, como o perdão parcial ou integral dívidas dos mais pobres, e ainda uma renegociação como prevê o ‘Desenrola”, uma proposta para renegociar dívidas de pequenos devedores e destinado a famílias que ganhem até dois salários mínimos, hoje em R$ 2.640; e qualquer pessoa que esteja inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).

Outro ponto apontado pela economista é o perdão da dívida dos estudantes, “até porque se houvesse vagas nas universidades eles não deveriam passar pelo endividamento”.

A política de juros do BC

A atual taxa Selic de 13,75% ao ano é alvo de críticas do governo, da CUT, do Sindicatos e demais centrais, entidades e movimentos que realizam nesta terça-feira (20), data em que o Banco Central vai definir o índice, atos contra os juros altos.

"A taxa de juros em patamar elevado – o Brasil tem a maior taxa do mundo - aprofunda a tendência recessiva da economia brasileira, eleva o contingente de desempregados, reduz as possibilidades de consumo das famílias, engessa qualquer capacidade de investimento das empresas e drena cada vez mais recursos públicos para o pagamento de juros da dívida, cujos principais credores são os representantes do sistema financeiro, único segmento da sociedade com interesses claros na atual política econômica do BC", acrescenta o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Vicentim.

Segundo o presidente da CUT, Sérgio Nobre, a política do BC penaliza a classe trabalhadora, pois "os juros altos são a forma mais cruel, mais perversa de transferir renda daqueles que são pobres para aqueles que são ricos".

Para Denise Gentil, o atual presidente do Banco Central (BC), Campos Neto, trabalha para impedir o governo de recuperar a economia do país. A economista argumenta que, com a queda da inflação, a manutenção da Selic em 13,75%, na verdade, é aumentar a taxa de juros real.

“A situação econômica do país não exige essa expropriação que o BC está fazendo. Pelo regime de metas de inflação o que deveria acontecer é a queda dos juros simultaneamente à queda de preços. O BC busca fazer um governo paralelo para impedir o governo de decolar, e usa o regime de metas de inflação para justificar o boicote ao novo governo”, diz.

“A população tem de ir para a rua apoiar o governo contra os juros altos para que ele não seja atacado pelo mercado financeiro que quer mandar no país como vem fazendo desde a gestão Bolsonaro”, conclui Denise Gentil.
Fonte: CUT, com edição de Seeb Catanduva

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