21/02/2022
Lucro dos bancos: dinheiro da população vai para mãos de acionistas
Em dois anos, durante a pandemia que levou ao fechamento de milhares de empresas, um setor se deu bem como sempre: o financeiro. Quatro dos maiores bancos brasileiros, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, acumularam lucro de R$ 157,4 bilhões em 2020 e 2021. O dado não registra o resultado da Caixa Federal, cujo balanço ainda não foi divulgado.
Esse fenômeno é classificado pela presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, como ação de um “Robin Hood ao contrário”. Isso porque grande parte do crescimento de 35% no lucro desses bancos em 2021, comparado ao ano anterior, vem de dinheiro que sai do bolso do povo. “Houve aumento da carteira de crédito de pessoa física. E parte é do cartão de crédito rotativo. Ou seja, ruim, porque as pessoas não conseguem pagar a fatura toda. Paga o mínimo e fica devendo. Aí entra nos juros de 350% ao ano”, relata a dirigente sindical em entrevista à Revista Brasil TVT.
“Outra parte veio da redução das despesas administrativas. Emblemático porque tem muita gente em teletrabalho e os bancos economizaram em viagem, energia elétrica, internet etc. Ao reduzir esses gastos aumentaram os lucros”, diz Juvandia. Os bancos ainda ganharam mais com cobrança de tarifas e prestação de serviços. “Ou seja, a população está pagando. Resumindo, o lucro vem de tirar dinheiro da população e colocar nas mãos dos acionistas dos bancos. O chamado Robin Hood ao contrário. Tira do povo que está endividado para dar para os banqueiros.”
"O problema é que a gestão do sistema bancário é extremamente voltada para o lucro e os resultados e desconectada da responsabilidade social. O que vemos se repetir é uma combinação explosiva de redução de postos de trabalho nos últimos anos, com piora das condições de atendimento de clientes e usuários e degradação da saúde física e emocional dos que trabalham submetidos a sobrecargas e pressões por metas abusivas", avalia o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Vicentim.
Setor desregulado
Há uma diferença muito grande no Brasil em comparação aos bancos nos demais países do mundo. O Brasil é um dos países onde os bancos têm a maior rentabilidade. Muitas vezes ganha de bancos americanos, de vários lugares. Por exemplo, o maior resultado do Santander sai do Brasil: 25% a 30% mais do que na Espanha. As taxas de juros daqui são as maiores de que se tem notícia.
Além disso, o spread dos bancos é muito alto. Ou seja, a diferença entre o custo para captar e o preço para emprestar o dinheiro.
"Com certeza, no Brasil tem rentabilidade gigante no setor financeiro. Um problema que precisa de medidas para regular o sistema no sentido de não drenar os recursos da população para esses acionistas”, diz a presidenta da Contraf-CUT, comparando à situação da Petrobras. “Quando você usa como referência para os preços do combustível, do gás de cozinha o dólar, pratica a política de preços internacionais você está tirando dinheiro da população e pagando para os acionistas da Petrobras. É a mesma coisa no sistema financeiro.”
"Os bancos pagam salário médio mensal de R$ 420 mil para seus executivos. Um bancário tem que trabalhar 17,5 anos seguidos para receber o que um executivo recebe em um mês; um professor precisaria de 14 anos em sala de aula para atingir este mesmo valor. Não é admissível tanto desrespeito com os bancários e a população. Há anos, estamos denunciando as desigualdades causadas pela ganância do bancos e o egoísmo de quem não consegue pensar um segundo sequer na sociedade", reforça Vicentim.
Um projeto para regulação do sistema financeiro está em processo de atualização. Regular o sistema financeiro é pensar numa política de crédito, de inclusão bancária. Mas, o que se viu foi o fechamento de agências no ano passado. Mais de 1.017 agências fechadas em 2021, fora as que foram fechadas em 2020. Houve redução de empregos no setor, que só não foi pior porque o movimento sindical bancário tinha uma ação que fez com que a Caixa contratasse trabalhadores aprovados em concurso.
Assim, regular o setor financeiro é pensar para onde o país quer ir. Que setor tem de estimular, que tipo de crédito tem de fornecer, que taxas de juros serão praticadas.
Assista à matéria completa na Revista Brasil TVT
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