13/01/2020
‘Situação da indústria brasileira nunca foi tão grave’, diz economista Marco Antonio Rocha

Estado brasileiro foi incapaz de reorganizar projeto industrialista para além do modelo esgotado nos anos 1970
(Foto: AGÊNCIA BRASIL/EBC)
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira caiu 1,2% em novembro, configurando o pior resultado para o mês de novembro desde 2015. Os dados foram divulgados na quinta-feira 9. A retração na indústria não é apenas episódica, apesar de o resultado interromper uma sequência de três altas seguidas, em agosto, setembro e outubro. A produção recuou 1,1% de janeiro a novembro; 1,3% em 12 meses; e 1,7% na comparação com novembro de 2018.
No período de outubro a novembro de 2019, os dados indicam queda em importantes segmentos industriais. Bens de consumo duráveis (-2,4%), bens intermediários (-1,5%), bens de capital (-1,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%).
Das dezesseis categorias pesquisadas, dez apresentaram queda, entre as quais se destacam veículos automotores (-4,4%), produtos alimentícios (-3,3%), indústria extrativa e máquinas e equipamentos (-1,6%). Tiveram desempenho positivo seis categorias, entre as quais impressão e produção de gravações (24%), derivados de petróleo e biocombustíveis (1,6%) e produtos de borracha e material plástico (2,5%).
Para Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp, é preocupante o fato de a taxa de câmbio ter apresentado uma tendência a desvalorização durante todo o ano 2019, o que poderia ter fornecido algum alento para a produção industrial. Entretanto, isto não ocorreu. “Portanto, os dados preocupam, em primeiro lugar, porque sugerem certa incapacidade de reação da indústria nacional a uma mudança positiva nos preços relativos.”
Outras características dessa retração chamam a atenção. “Primeiramente, a retração foi bem mais intensa nos setores importantes como bens de consumo duráveis, indicando, pelo menos, uma disposição menor das famílias em consumir.”
Para Rocha, isto é sintomático do estado do mercado de trabalho. “A maior geração de empregos precários também se reflete em uma menor capacidade em comprometer renda com o financiamento de bens duráveis e, portanto, com certa incapacidade de recuperação do mercado doméstico.”
Chama a atenção, também, a queda acentuada em bens de capital e bens intermediários, dado que “representa a queda da demanda intraindustrial, isto é, uma queda na propensão da indústria em investir e adquirir insumos produtivos”.
Rocha destaca que esse dado é preocupante porque, geralmente, sugere uma continuação da tendência de queda da produção industrial. “Tudo isso indica a continuação de um cenário de semiestagnação pelo menos para o curto e médio prazo na economia brasileira.”
Crise crônica
A crise industrial brasileira não passa por momento difícil apenas recentemente. “A crise é crônica desde a década de 1990”, diz. Segundo ele, essa crise se relaciona com a incapacidade do país de “assimilar o paradigma da microeletrônica e os efeitos decorrentes disso em termos de assimilação e difusão das novas tecnologias, além da incapacidade do Estado brasileiro em reorganizar um projeto industrialista para além do modelo esgotado na década de 1970”.
Para piorar o quadro, em sua análise, “os poucos mecanismos de proteção à indústria nacional reativados nos anos 2000 foram praticamente desmontados ou demonizados a partir do governo de Michel Temer e, depois, na recém-iniciada era Bolsonaro”.
A constatação é de que o Brasil está cada vez mais distante da conjuntura internacional, aponta o economista da Unicamp. “Hoje, é ponto pacífico que as economias desenvolvidas estão retomando as políticas industriais de grande porte. Enquanto isso, desmontamos nossos mecanismos de fomento.”
O Brasil não tem sequer empresas preparadas à assimilação do próximo paradigma tecnológico: a indústria 4.0. “A situação da indústria brasileira nunca foi tão grave.”
Diante desse cenário, avalia Marco Antonio Rocha, a perspectiva de reversão do quadro é muito difícil, mesmo se houver uma mudança significativa da conjuntura econômica internacional, cenário que, segundo ele, não parece muito provável.
Assim, o esvaziamento da industrial nacional deixou o complexo industrial brasileiro com pouca capacidade de sustentar um ciclo de crescimento. “Qualquer retomada do crescimento econômico, nessa situação, teria como paralelo o ressurgimento de déficits comerciais. Tudo vai depender muito da conjuntura internacional durante 2020.”
Para o economista, pode haver outras fontes de crescimento para a economia brasileira durante 2020, como o investimento em construção civil, por exemplo, mas há uma questão importante: “como um impulso de demanda poderá se sustentar diante de um processo adiantado de desindustrialização?”
“Caso o câmbio continue nesse patamar (hoje, o dólar oscila pouco acima de R$ 4), a indústria pode até reagir, mas acho difícil que, sem a mudança da conjuntura internacional, estímulos internos e demanda possam garantir um ciclo de crescimento a partir do que sobrou da indústria nacional.”
No período de outubro a novembro de 2019, os dados indicam queda em importantes segmentos industriais. Bens de consumo duráveis (-2,4%), bens intermediários (-1,5%), bens de capital (-1,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%).
Das dezesseis categorias pesquisadas, dez apresentaram queda, entre as quais se destacam veículos automotores (-4,4%), produtos alimentícios (-3,3%), indústria extrativa e máquinas e equipamentos (-1,6%). Tiveram desempenho positivo seis categorias, entre as quais impressão e produção de gravações (24%), derivados de petróleo e biocombustíveis (1,6%) e produtos de borracha e material plástico (2,5%).
Para Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp, é preocupante o fato de a taxa de câmbio ter apresentado uma tendência a desvalorização durante todo o ano 2019, o que poderia ter fornecido algum alento para a produção industrial. Entretanto, isto não ocorreu. “Portanto, os dados preocupam, em primeiro lugar, porque sugerem certa incapacidade de reação da indústria nacional a uma mudança positiva nos preços relativos.”
Outras características dessa retração chamam a atenção. “Primeiramente, a retração foi bem mais intensa nos setores importantes como bens de consumo duráveis, indicando, pelo menos, uma disposição menor das famílias em consumir.”
Para Rocha, isto é sintomático do estado do mercado de trabalho. “A maior geração de empregos precários também se reflete em uma menor capacidade em comprometer renda com o financiamento de bens duráveis e, portanto, com certa incapacidade de recuperação do mercado doméstico.”
Chama a atenção, também, a queda acentuada em bens de capital e bens intermediários, dado que “representa a queda da demanda intraindustrial, isto é, uma queda na propensão da indústria em investir e adquirir insumos produtivos”.
Rocha destaca que esse dado é preocupante porque, geralmente, sugere uma continuação da tendência de queda da produção industrial. “Tudo isso indica a continuação de um cenário de semiestagnação pelo menos para o curto e médio prazo na economia brasileira.”
Crise crônica
A crise industrial brasileira não passa por momento difícil apenas recentemente. “A crise é crônica desde a década de 1990”, diz. Segundo ele, essa crise se relaciona com a incapacidade do país de “assimilar o paradigma da microeletrônica e os efeitos decorrentes disso em termos de assimilação e difusão das novas tecnologias, além da incapacidade do Estado brasileiro em reorganizar um projeto industrialista para além do modelo esgotado na década de 1970”.
Para piorar o quadro, em sua análise, “os poucos mecanismos de proteção à indústria nacional reativados nos anos 2000 foram praticamente desmontados ou demonizados a partir do governo de Michel Temer e, depois, na recém-iniciada era Bolsonaro”.
A constatação é de que o Brasil está cada vez mais distante da conjuntura internacional, aponta o economista da Unicamp. “Hoje, é ponto pacífico que as economias desenvolvidas estão retomando as políticas industriais de grande porte. Enquanto isso, desmontamos nossos mecanismos de fomento.”
O Brasil não tem sequer empresas preparadas à assimilação do próximo paradigma tecnológico: a indústria 4.0. “A situação da indústria brasileira nunca foi tão grave.”
Diante desse cenário, avalia Marco Antonio Rocha, a perspectiva de reversão do quadro é muito difícil, mesmo se houver uma mudança significativa da conjuntura econômica internacional, cenário que, segundo ele, não parece muito provável.
Assim, o esvaziamento da industrial nacional deixou o complexo industrial brasileiro com pouca capacidade de sustentar um ciclo de crescimento. “Qualquer retomada do crescimento econômico, nessa situação, teria como paralelo o ressurgimento de déficits comerciais. Tudo vai depender muito da conjuntura internacional durante 2020.”
Para o economista, pode haver outras fontes de crescimento para a economia brasileira durante 2020, como o investimento em construção civil, por exemplo, mas há uma questão importante: “como um impulso de demanda poderá se sustentar diante de um processo adiantado de desindustrialização?”
“Caso o câmbio continue nesse patamar (hoje, o dólar oscila pouco acima de R$ 4), a indústria pode até reagir, mas acho difícil que, sem a mudança da conjuntura internacional, estímulos internos e demanda possam garantir um ciclo de crescimento a partir do que sobrou da indústria nacional.”
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