25/11/2018

Congresso da Fetec-CUT/SP debate mudanças trabalhistas, tecnologias e "banco do futuro"


 

A Federação dos Bancários da CUT de São Paulo (FETEC-CUT/SP) realizou entre os dias 23 (sexta-feira) e 25 (domingo), em São Paulo, seu 11º Congresso Estadual.

Representando o Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região estiveram presentes o presidente da entidade, Roberto Carlos Vicentim, e os diretores Antônio Júlio Gonçalves Neto, Júlio César Trigo, Amarildo Davoli, Júlio Mathias, Paulo Franco, Luiz César de Freitas, Luana Gerlach e Jane de Oliveira.

 

Presidente do Sindicato, Roberto Carlos Vicentim, e diretores da entidade participam do 11º Congresso da Fetec-CUT/SP
(Foto: Seeb Catanduva)
 
 
Entre outros temas, a pauta incluiu uma discussão da conjuntura nacional, o balanço da gestão, a organização da categoria bancária e a aprovação de um plano de lutas para o próximo período. O 11º Congresso também elegeu a nova direção da Federação para o quadriênio 2018-2022. 

A comissão organizadora, composta por Ivone Maria da Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Belmiro Aparecido Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários do ABC e Luís Carlos dos Santos, presidente do Sindicato dos Bancários de Guarulhos, encaminhou a votação da eleição da próxima diretoria da FETEC-CUT/SP. A chapa encabeçada por Aline Molina foi eleita por unanimidade pelos delegados do 11º Congresso da entidade.

Durante o discurso de posse, a presidenta reeleita da Federação, Aline Molina, reafirmou o compromisso da entidade em defender os direitos e interesses da categoria bancária, buscando ampliar suas conquistas, além de enfrentar as adversidades do momento, em que o próximo governo ameaça à democracia, liberdades individuais e os direitos dos trabalhadores. Lembrou ainda que a unidade da FETEC-CUT/SP foi fundamental na defesa dos direitos previstos na CCT e na aprovação do acordo de 2 anos para a categoria.

Aline observou que o próximo mandato enfrentará um momento muito difícil, tanto para os trabalhadores, quanto para a sociedade em maneira geral. “Temos sofrido vários ataques, mas vamos manter a postura de estar sempre atentos ao que acontece na política, principalmente porque teremos um presidente da república dos mais conservadores da história. E vamos defender a democracia e os nossos direitos”, assegurou.

O ex-presidente da Federação e atual dirigente da entidade e do Sindicato dos Bancários das Catanduva, Luiz César de Freitas, o Alemão, parabenizou a gestão que se encerra e disse ter certeza que o ótimo trabalho irá continuar nos próximos anos. “Tenho certeza que os companheiros reconhecem as lutas e conquistas dessa Federação. Parabéns à nova diretoria, que ela continue a nos conduzir pela direção certa da história”.

DEBATE SOBRE ANÁLISE DE CONJUNTURA

A mesa de debate sobre análise de conjuntura, conduzida por Aline Molina, contou com a participação de Guilherme Boulos, ativista político, político, escritor brasileiro e membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.

O debate avaliou o atual momento vivido pelos trabalhadores do país no atual cenário, em que um governo com uma pauta manifestamente retrógrada do ponto de vista social e economicamente ultraliberal e privatista, que defende a substituição do Estado pelo mercado mesmo na oferta de bens e serviços essenciais, e que já anunciou que pretende reprimir movimentos que forem contrários às pautas apresentadas pelo governo.

Segundo Guilherme Boulos, Bolsonaro é uma ameaça real à democracia brasileira, mas há esperança. “O Brasil é maior do que Bolsonaro. Não iremos nos acovardar, precisamos entender que ter posições diferentes dentro da sociedade é normal, em uma democracia. Mas precisamos discutir e apresentar a sua opinião. Precisamos ampliar nosso leque de propostas e dialogar com a população”, explica.

O perigo do próximo governo vai além dos riscos políticos, podendo atingir diretamente a liberdade de pensamento crítico, que é ameaçado pelo autoritarismo político que está por vir. A população que votou no novo governo representa menos de 30% da população, ou seja, existe espaço para diálogo com a sociedade. 

“A população quer segurança, combate à corrupção, a população quer ser respeitada e o Bolsonaro não significa nada disso. Precisamos nos reaproximar da população, estar junto do povo, retomar bandeiras que historicamente sempre pertenceram à esquerda”, e completa. “Há muito espaço para luta e enfrentamento na sociedade. Não será uma luta fácil, porém já passamos vários períodos turbulentos em nossa história e a classe trabalhadora sempre teve disposição para lutar e neste período não será diferente. Precismos inovar e buscar novas formas de fazer a luta”, conclui Vagner Freitas.

A mesa de debate sobre o “banco do futuro” e o emprego de novas tecnologias no Sistema Financeiro, conduzida pela presidenta do Sindicato dos Bancários de Sâo Paulo, Ivone Maria da Silva, trouxe para a discussão a estratégia de redução do número agências físicas e o aumento do número de fintechs - startups que prestam serviços do sistema financeiro.

Estes fenômenos compõem um processo que atinge os trabalhadores reduzindo o número de empregos e a composição da categoria, que tende a encolher cada vez mais. Esta “reestruturação” também atinge diretamente os sindicatos, pois muitos dos novos trabalhadores do ramo não tem a representação dos sindicatos.

Segundo Gustavo Cavarzan, economista do Dieese, desde 2012, os bancos têm registrado saldo negativo de empregos mês a mês. De lá para cá, já são quase 60 mil postos de trabalho fechados nos bancos, embora no período os bancos tenham registrado recordes de lucro. 

“Toda a parte transacional do banco, ou seja, aquela que era feita na agência pelo caixa ou pelo escriturário, está sendo ou terceirizada para os correspondentes bancários ou transferida para os aplicativos de celular. Esse é um aspecto da reestruturação. Outro aspecto diz respeito a uma série de atividades de apoio interno do banco, que também estão sendo automatizadas, e o pior é que não sabemos quem são, onde estão ou o que desejam estes trabalhadores”, explica o economista. 

Para Márcio Monzane, secretário-geral Regional da UNI América, o que vem ocorrendo não é um fenômeno local e isolado. “É evidente que existe um ataque mundial aos direitos dos trabalhadores, através de uma retomada neoliberal que utiliza o poder da indústria da informação e da mídia comprometida com esta causa, para iludir os que vivem dos seus salários. Criam uma pós-verdade, querendo fazer crer que, se reduzirem direitos, flexibilizarem os salários e as formas de contratação, vamos ter mais empregos. Tudo isso não passa de uma grosseira mentira", explica o secretário.

Reforma Trabalhista e os impactos na Organização Sindical

O Dr. Eymar Loguercio, da LBS Advogados, abordou o novo cenário da Justiça Trabalhista diante das mudanças e das muitas dúvidas impostas pela reforma que entrou em vigor em novembro. 

“Existe muita indefinição inclusive do ponto de vista jurídico. A reforma não é uma novidade. Foca em flexibilizar o conceito e a lógica das relações de trabalho. Em seguida, aposta no enfraquecimento dos sindicatos, o que já vinha sendo pensado ao longo dos anos. Depois, impõe o negociado sobre o legislado com a expectativa de reduzir direitos. Por fim, coloca a Justiça do Trabalho na mesma lógica de desmonte da estrutura e da legislação”, argumento o advogado.

Eymard diz ainda que o movimento mundial do capitalismo para flexibilização dos direitos trabalhistas, com a intenção de domesticar a classe trabalhadora, não seria uma questão macroeconômica, e sim uma doutrina neoliberal, visando a flexibilização de jornada, fim dos acordos coletivos e enfraquecimento do movimento sindical.

A mesa do 11º Congresso da FETEC-CUT/SP que abordou os temas balanço da gestão, estratégia e plano de lutas foi apresentada pelo Secretário Geral da Federação dos Bancários da CUT de São Paulo (FETEC-CUT/SP), Eric Nilson e Isane Pereira, Diretor de Formação Sindical.

A primeira Campanha Nacional da atual gestão, em 2016, foi única sob diversos aspectos. Fortalecidos pela onda conservadora, e já sob o governo de Temer, que montou seu gabinete com nomes que haviam saído de seus quadros, os banqueiros demonstraram desde o primeiro momento sua intransigência. Na construção da Campanha Nacional daquele ano, ficou claro que o processo de negociação seria extremamente duro. Nas reuniões, Conferências Regionais e Conferência Estadual, foi construída a pauta de reivindicações levada para discussão na Conferência Nacional dos Bancários, e, ao mesmo tempo, foi sendo construída a mobilização da base.

 

 
 

“Nós últimos anos estivemos frequentemente em ação, realizamos atividades de rua e dialogamos com a sociedade sobre o papel que o Sistema Financeiro desempenha, realizando o debate político que é tão importante neste momento de ameaça aos direitos dos trabalhadores”, explica Eric Nilson.

Segundo Isane Pereira, a expectativa para os próximos anos é de alcançar os objetivos que são estratégicos para a FETEC-CUT/SP. “É de suma importância a manutenção da mesa única de negociações, a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho, mantendo seu caráter nacional e a integralidade das conquistas da categoria, e também a renovação dos acordos específicos, sem perda de conquistas”. 

Durante o encontro, os delegados aprovaram o plano de lutas da categoria para os próximos anos.
Fonte: Fetec-CUT/SP, com Seeb Catanduva

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